Sua ferramenta preferida pode não ser a que mais irá te ajudar
Há uma ideia bastante difundida no mundo dos estudos que diz que cada pessoa tem um “estilo de aprendizagem” (auditivo, visual, entre outros) e que o segredo do aprendizado está em descobrir o seu e se ater a ele usando apenas ferramentas que o impulsionem.
Embora essa crença pareça fazer sentido à primeira vista, a verdade é que não há embasamento científico que comprove que estudar segundo o seu estilo favorito torna o aprendizado mais eficiente. Na verdade, é o contrário…
Afinal, o que realmente faz diferença não é adaptar o conteúdo ao seu gosto pessoal, mas sim adequar a natureza do conteúdo à ferramenta de aprendizagem mais interessante para cada caso. Em outras palavras, o que deve guiar a forma de estudos é o conteúdo, e não as suas preferências individuais.
A importância de adaptar o conteúdo — não o aluno
Alguns conteúdos são naturalmente mais visuais, como gráficos e esquemas. Outros exigem leitura atenta, resolução de questões, ou escuta concentrada. Por isso, a eficiência do estudo depende da adequação entre o conteúdo e a forma de estudá-lo, e não de um estilo pessoal.
Por exemplo: assistir a uma videoaula pode ser excelente para entender um tema difícil, mas pouco produtivo para revisar algo que você já domina ou consegue compreender facilmente através da leitura.
Da mesma forma, ler a “lei seca” pode ser mais útil para fixar conceitos diretos e objetivos, enquanto o PDF de um curso teórico ajuda a construir uma base sólida de entendimento.
Experiência pessoal não é método
É comum encontrar pessoas que afirmam ter sido aprovadas em concursos por seguirem determinada técnica: fazer resumos, ver muitas videoaulas, usar apenas mapas mentais… Mas experiência pessoal não é método científico. Muitas vezes, essas pessoas foram aprovadas apesar de certas práticas, e não por causa delas.
Cada pessoa tem predisposições, preferências e hábitos que podem influenciar o estudo, mas isso não significa que essas estratégias funcionem de forma generalizada. O que realmente importa é seguir princípios que tenham lógica e sustentação, e que possam ser aplicados com flexibilidade de acordo com o contexto.
Tudo depende do contexto
Se eu perguntar: “O que é melhor, um tênis ou um salto alto?”, você provavelmente vai responder “depende”.
E está absolutamente certo! Um salto pode ser elegante em um evento formal, mas totalmente inadequado para a academia. O mesmo acontece com as ferramentas de estudo — o melhor método depende do contexto, da disciplina e do objetivo.
Não existe uma única forma certa de estudar, mas sim a combinação certa de estratégias para cada situação.
Combinando as ferramentas certas
Você não usa um martelo ou um prego, você usa um martelo e um prego.
Uma ferramenta complementa a outra, e é assim que o estudo deve funcionar. Quanto mais você amplia o seu leque de ferramentas, maior será sua capacidade de adaptar o aprendizado à natureza do conteúdo.
Por isso, o segredo não está em escolher “a melhor técnica”, mas em entender quando e como aplicar cada uma. A união de métodos, feita de forma inteligente, é o que traz resultados consistentes.
Diretrizes práticas para escolher as ferramentas
Algumas orientações simples podem ajudar a definir a melhor estratégia em cada caso:
-
Custo-benefício: Sempre que possível, priorize o material escrito (como PDFs) como base. Ele permite avançar mais rápido e de forma mais objetiva.
-
Dificuldade: Use videoaulas para esclarecer dúvidas pontuais ou em disciplinas que você ainda considera difíceis. Estudar dessa forma não é um retrocesso, é uma estratégia!
-
Questões: Devem estar presentes do início ao fim da sua preparação. Resolver questões é essencial para consolidar o aprendizado e entender o estilo das provas. Deixei algumas dicas de como estudar por questões aqui.
-
Otimização do tempo: Aproveite tarefas mecânicas (como deslocamentos ou atividades repetitivas) para ouvir áudios e reforçar revisões.
-
Resumos: Faça com parcimônia. Eles consomem muito tempo e nem sempre são indispensáveis. Use-os apenas se servirem como ferramenta de revisão ativa — por exemplo, tentar escrever de memória os pontos mais importantes depois de ler uma aula.
- O uso de mapas mentais pode ser mais interessante que os resumos, já que apresentam as informações de forma hierarquizada, estruturada e com recursos visuais para aumentar a retenção de conteúdo. Um exemplo são os Mapas da Lulu.
-
Lei seca: É indispensável, especialmente em provas que cobram literalidade da norma. Por ser um texto direto, ajuda a fixar conceitos e a revisar com agilidade. Mas cuidado, é necessário ter conhecimento prévio sobre os pontos realmente importantes.
Uma “passagem secreta”: organização sem esforço
Aqui vai uma dica simples, mas poderosa. Um verdadeiro atalho secreto para otimizar seus estudos.
Em vez de simplesmente nomear seus arquivos como “Aula 01”, “Aula 02”, etc., adicione o status da disciplina: “Aula 01 – ok”, “Aula 02 – exercícios até 39”, “Aula 03 – teoria revisada”.
Isso cria um panorama geral da sua evolução e até viabiliza a resolução de questões por camadas — ou seja, refazer questões em intervalos espaçados para reforçar o conteúdo na memória de longo prazo.
A chave para uma preparação de alto nível
Estudar de forma eficiente não tem a ver com seguir o “estilo” que parece mais confortável, mas sim com entender o que o conteúdo exige de você.
Quando você escolhe as ferramentas certas, combina métodos com inteligência e mantém uma rotina organizada, o aprendizado se torna mais produtivo e os resultados aparecem.
O segredo está em abrir o leque, não em se limitar.
O verdadeiro estudante eficiente é aquele que entende o contexto, escolhe com propósito e aprende a usar o martelo e o prego.








