Teoria dos Estilos de Aprendizagem: Mito ou Verdade?

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Laura Amorim

Mapas da Lulu. Você realmente aprende melhor de um único jeito? Descubra a verdade sobre os estilos de aprendizagem e como estudar de forma mais eficiente.

Você já ouviu falar da teoria dos estilos de aprendizagem

Se você já estudou para uma prova, provavelmente já ouviu alguém dizer: “Eu só aprendo lendo” ou “Se não tiver videoaula, eu não aprendo!”. A ideia de que cada um tem um jeito único e ideal de aprender se espalhou tanto que virou quase um folclore da educação. Mas será que isso é verdade ou apenas mais um mito bem contado?

Antes de aprofundar no tema, vale destacar a frase: “A exceção é o exemplo do burro”. Ou seja, casos extraordinários existem, mas o foco aqui será na regra, ou seja, no que funciona para a maioria das pessoas.

E se você já está começando a discordar, calma! Este artigo não é opinião pessoal, nem um achismo qualquer. É ciência. Então, vamos juntos entender o que as evidências realmente dizem sobre os estilos de aprendizagem?

 

O que é a teoria da aprendizagem

A teoria dos estilos de aprendizagem parte da premissa de que as pessoas captam e processam informações de maneiras diferentes. Isso significa que algumas pessoas seriam mais visuais, outras mais auditivas, enquanto outras aprenderiam melhor por meio da experiência prática (…e assim vai!). 

De acordo com essa teoria, se o método de ensino for ajustado ao estilo predominante do aluno, o aprendizado será mais eficiente e os resultados tendem a ser melhores.

E teoria vai além: ela também sugere que, se alguém aprende de um jeito que não combina com seu estilo, seu desempenho será prejudicado. Em outras palavras, por exemplo, um estudante que acredita ser visual poderia encontrar obstáculos ao aprender apenas com áudios, enquanto alguém que se considera auditivo teria problemas para estudar com materiais escritos.

Mas… e se eu te dissesse que isso pode não ser bem assim?

 

A ilusão dos estilos de aprendizagem

A ideia dos estilos de aprendizagem não influencia só a forma como estudamos, mas também como nos enxergamos. 

Existe um ditado que diz: “Se você pensa que consegue ou que não consegue, você estará certo”. E, de fato, a forma como percebemos nossas próprias habilidades influencia diretamente o nosso desempenho nos estudos.

Se alguém tem certeza de que é um estudante auditivo, por exemplo, pode olhar para um livro e já pensar: “Ih, isso aqui não vai entrar na minha cabeça!”. A cada dificuldade, essa crença se fortalece: “Tá vendo? Não sou bom com texto!”. E, claro, essa pessoa nem vai insistir muito, porque já decidiu que aquele método não funciona para ela, criando um ciclo de autossabotagem. 

Agora, se esse mesmo estudante estiver usando um método que considera o “ideal”, vai se engajar mais, ficar mais confiante e, no fim, ter um resultado melhor. Mas será que isso acontece porque o método é realmente mais eficiente ou apenas porque o estudante se dedicou mais?

A verdade é que essa ideia de estilos de aprendizagem é uma ilusão.

É claro que cada um tem suas preferências na hora de aprender. Mas a ciência nunca comprovou que estudar de acordo com tais preferências de aprendizado traz, de fato, melhores resultados.

Pelo contrário! Vários outros fatores têm muito mais impacto, como, por exemplo, a habilidade de leitura e interpretação de texto.

 

De onde surgiu, então, a teoria dos estilos de aprendizagem?

A teoria dos estilos de aprendizagem não surgiu de uma única fonte, mas sim de várias abordagens que tentaram explicar como as pessoas aprendem de formas diferentes. Por exemplo:

  • Em 2004, um relatório britânico identificou nada menos que 70 estilos de aprendizagem diferentes. Isso mesmo, 70!
  • A abordagem VARK, do professor neozelandês Neil Fleming, que traz vários estilos, cada um com 18 dimensões diferentes.
  • A teoria de Kenneth e Rita Dunn, que traz 6 aspectos diferentes de estilos de aprendizagem.
  • A teoria de Honey e Mumford, que divide os estilos em ativistas, refletores, teóricos e pragmáticos.

 

O que é interessante (e ao mesmo tempo problemático) é que essas teorias não se relacionam bem entre si. Elas são bastante diferentes e, muitas vezes, contraditórias. Isso torna difícil acreditar que haja um embasamento científico sólido por trás delas.

O único ponto que todas elas têm em comum é a premissa de que os estudantes teriam um perfil específico e que, se você alinhar esse perfil à forma de ensino, haveria um certo benefício. 

 

Organizando a bagunça 

Em 2008, quatro psicólogos cognitivos bem conhecidos resolveram organizar os vários estudos existentes sobre o tema e investigar se essa teoria fazia sentido – dois deles, inclusive, vocês podem conhecer: Doug Rohrer e Bob Bjork.

A primeira coisa que esses pesquisadores afirmaram foi que para realmente provar que essa teoria funciona, seria necessário um estudo bem estruturado, em que os alunos fossem testados tanto dentro quanto fora de seu suposto estilo de aprendizagem. 

Eles, então, começaram a analisar os estudos existentes e…. para a surpresa deles, não encontraram nenhuma pesquisa sólida que comprovasse a eficácia dessa teoria. Pelo contrário, eles encontraram uma série de estudos que desmentiam qualquer relação entre os estilos de aprendizagem e melhores resultados.

A grande conclusão desses psicólogos foi clara: o que realmente importa não é o estilo de aprendizagem do aluno, mas o conteúdo que está sendo ensinado. Em outras palavras, é muito mais eficaz alinhar o método de ensino ao conteúdo da disciplina do que tentar adaptar a metodologia às preferências do estudante.

Isso significa que, por exemplo, se você vai ensinar geometria, a aula precisa ser visual, enquanto se vai ensinar literatura, a aula precisa ser verbal.

Não se trata de adaptar o ensino ao que o aluno “prefere”, mas sim de adaptar o método ao que o conteúdo exige para ser melhor compreendido. Quando o método de ensino está alinhado com a natureza do conteúdo, todos os alunos têm a chance de aprender melhor, independentemente do estilo que acreditam preferir. 

Esse é o ponto crucial: a forma de ensino deve ser determinada pelo que está sendo ensinado, e não pelas preferências pessoais de quem estuda.

 

Uma dica de leitura

Para quem deseja se aprofundar no assunto, uma ótima recomendação é o livro Fixe o Conhecimento: A Ciência da Aprendizagem Bem-Sucedida, de Peter C. Brown, Henry L. Roediger III e Mark A. McDaniel. 

Os autores do livro possuem grande credibilidade: dois são professores de psicologia na Washington University, e um deles atua como diretor do Centro de Pesquisas Integrativas em Aprendizagem e Memória da universidade.

Diversos livros de neurociência já desbancaram a teoria dos estilos de aprendizagem, enquanto os poucos conteúdos que tentam validá-la geralmente não possuem embasamento sólido. Normalmente, obras acadêmicas sérias rejeitam essa teoria, e este livro, em especial, dedica um capítulo inteiro ao tema, apresentando exemplos, estudos e contra-estudos que reforçam essa conclusão.

Além disso, no final da obra, há uma extensa lista de referências científicas, permitindo que qualquer pessoa consulte diretamente os estudos citados.

 

Libertando-se de velhas crenças 

Então, qual é o ponto central de tudo isso?

A ideia aqui é ajudar você a se libertar dos preconceitos sobre o seu estilo de aprendizagem: o melhor método não é aquele que parece mais confortável, e sim o que faz sentido para o momento e para a matéria que você está estudando.

Se você só usa videoaulas porque acredita que “só aprende assim”, vale a pena repensar esse conceito. Principalmente em provas como concursos e vestibulares, em que o tempo é curto e o volume de conteúdo é grande. Nesses casos, o material escrito pode ser uma ferramenta poderosa para avançar mais rápido.

Além disso, pense bem: no dia da prova, não vai ter videoaula para te ajudar. Você precisará ler, interpretar e responder às questões com base no texto escrito. Então, se hoje o material escrito parece um obstáculo, talvez o problema não seja o formato, mas sim a sua habilidade de leitura e interpretação — e isso pode (e deve!) ser desenvolvido.

Claro, para algumas matérias, videoaulas podem ser úteis, como em Matemática, onde acompanhar o raciocínio do professor facilita a compreensão. Mas será que, para aprender Direito Constitucional, por exemplo, não é mais produtivo focar no material escrito e, caso surjam dúvidas pontuais, recorrer à videoaula apenas para esses tópicos específicos?

A chave está no equilíbrio. Videoaulas podem ser um complemento, mas não devem ser sua única estratégia. Quanto mais ferramentas você dominar, mais eficiente será seu aprendizado.

 

Estude de forma inteligente

O segredo para um aprendizado eficiente não está em rótulos, mas em usar as ferramentas disponíveis de forma estratégica. Você não é exclusivamente visual, auditivo ou qualquer outro perfil fixo. O que realmente faz diferença é alinhar seu método de estudo ao seu objetivo e ao tipo de conteúdo que precisa aprender — e não a uma crença limitante sobre como você “deveria” estudar.

E aqui vale reforçar aquela frase do início: “A exceção é o exemplo do burro”.

Casos isolados sempre existirão, mas quando falamos em aprendizado, o foco deve estar no que funciona melhor para a maioria das pessoas.

Então, esqueça essa ideia de que existe apenas um jeito certo para você estudar. Explore diferentes estratégias, teste novos métodos e descubra como e quando é importante e essencial incluir cada uma delas no seu aprendizado.

Quer mais orientações para turbinar seus estudos? Inscreva-se no meu canal do YouTube (@LauraAmorim) e aprenda com conteúdos baseados em ciência!

 

Até a próxima!

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Sobre a autora

Aprovada nos concursos de Auditor Fiscal Estadual de Santa Catarina (7º Lugar), Auditor Fiscal Estadual de Goiás (23º lugar), Consultor Legislativo (4º lugar), Agente da Polícia Federal (em 2021).

Especialista em preparação para concursos públicos, técnicas de aprendizagem acelerada e estudos de alto rendimento.

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Sobre a autora

Pós-graduada em Neuroeducação, especialista em preparação para concursos, técnicas de aprendizagem acelerada e estudos de alto rendimento.

Aprovada dentro das vagas em vários dos maiores concursos do país de diversas áreas:

Consultor legislativo CMBH Auditor Fiscal Estadual (SC) Auditor Fiscal Estadual (GO) Agente de Polícia Federal

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