Hábitos que Aprovam: Como Continuar a Estudar
Em algum momento da preparação para concursos, surge uma dúvida que incomoda:
“Por que algumas pessoas são aprovadas e eu não?”
“Por que parece tão mais difícil estudar para mim do que para os outros?”
A resposta, na maioria das vezes, não está na inteligência, no talento ou na força de vontade.
Na realidade, o verdadeiro motivo está na forma como o cérebro lida com os hábitos, especialmente quando eles não trazem recompensas imediatas.
O descompasso entre o prazer e o esforço
O autor James Clear, no livro Hábitos Atômicos, explica que formar um hábito novo raramente é prazeroso no início.
Enquanto ficar no sofá, com um balde de pipoca e um filme é algo que o cérebro interpreta como recompensa imediata, estudar representa esforço com retorno distante.
E aqui está o ponto central: o cérebro odeia esperar.
Ele foi programado para buscar prazer rápido e evitar desconforto.
Por isso, é natural sentir resistência quando você se senta para estudar, afinal, o “prêmio” desse esforço só virá meses, ou até anos, depois.
Além disso, os custos dos bons hábitos aparecem agora: abrir o material, estudar, revisar, se concentrar.
Já as recompensas chegam muito mais tarde.
Esse descompasso explica por que manter a constância parece tão difícil, mas também mostra o caminho para superar isso.
Traga recompensas para o presente
A solução está em encurtar a distância entre o esforço e a recompensa.
Você pode fazer isso ao criar pequenas gratificações imediatas que reforcem o comportamento desejado.
Por exemplo:
- Permitir-se um intervalo curto depois de concluir uma meta.
- Registrar seu progresso e ver o quanto já avançou.
- Celebrar o simples fato de ter mantido o compromisso de estudar, mesmo sem vontade.
Além disso, racionalizar o porquê de cada ação também ajuda o cérebro a cooperar.
Portanto, quando você entende que estudar hoje é uma escolha consciente rumo a um futuro melhor, o ato ganha significado, e o cérebro tende a oferecer menos resistência.
O platô do potencial latente e o vale do desapontamento
James Clear apresenta outro conceito essencial: o platô do potencial latente.
Ele mostra que o progresso raramente acontece de forma linear. Esperamos melhorar um pouco a cada dia, mas, na realidade, o crescimento segue uma curva.
Nos primeiros meses, você estuda, revisa, faz questões e sente que nada muda.
Essa fase é conhecida como vale do desapontamento, o período em que o esforço ainda não produziu resultados visíveis.
Muita gente desiste exatamente aí, não porque não funcionaria, mas porque ainda não deu tempo de funcionar.
Contudo, as habilidades têm um tempo de maturação, resultados grandes são quase sempre tardios. Mas quando o progresso finalmente aparece, ele compensa cada minuto de persistência.
Por isso, grandes conquistas têm pequenos começos, e só florescem para quem suporta a fase invisível do crescimento.
Se quiser entender melhor o vale do desapontamento, tenho um vídeo em que explico melhor aqui.
Metas não passam em concursos. Sistemas, sim.
É curioso perceber que quem passa e quem não passa costuma ter a mesma meta: ser aprovado.
O que muda, na verdade, é o sistema.
As metas definem o destino; os sistemas determinam o caminho.
O sistema é o conjunto de ações diárias que você mantém mesmo quando ninguém está vendo. É revisar sem vontade, fazer questões erradas, corrigir o que não sabe, e continuar mesmo assim.
Nesse sentido, é preciso destacar que a verdadeira felicidade não está apenas em alcançar o objetivo final, mas em manter o sistema funcionando.
Quando você cumpre o plano do dia, revisa, estuda, faz as questões, o progresso deixa de ser uma abstração e se torna real, palpável.
O poder da identidade compartilhada
Há um fator muitas vezes esquecido: nós imitamos o comportamento das pessoas ao nosso redor.
Convivemos e, inconscientemente, copiamos os hábitos da maioria, das pessoas mais próximas e daquelas que admiramos.
Por isso, é essencial se cercar de quem entende o processo.
Andar com pessoas comprometidas com os mesmos objetivos normaliza o sacrifício e fortalece a disciplina.
Evite ambientes e pessoas que tratam o estudo como exagero ou “frescura”.
Afinal, ninguém precisa carregar o fardo de parecer um “alien” por perseguir um sonho grande.
Projete seu ambiente para o sucesso
Os hábitos são moldados pelo ambiente.
Se o seu espaço de estudo está cheio de distrações, a força de vontade precisará trabalhar o tempo todo, e isso é insustentável.
Dessa forma, é preciso preparar seu ambiente de forma que o estudo se torne o caminho mais fácil.
Deixe estímulos visuais positivos à vista (como o material organizado, o cronograma visível e as metas diárias) e esconda os estímulos negativos (celular, TV, redes sociais).
Assim, você reduz a necessidade de resistir constantemente às tentações e aumenta naturalmente a constância.
Saiba lidar com a falha
Nenhum hábito é perfeito.
Você vai falhar, perder um dia ou se distrair. E tudo bem.
A regra é simples: nunca quebre o hábito duas vezes seguidas. Se hoje não deu, volte amanhã.
Pense em um celular que cai no chão, você não pisa nele só porque já caiu. Você pega e imediatamente guarda.
Os dias ruins são, na verdade, os mais importantes, pois constroem o banco de evidências internas que prova que você continua, mesmo quando é difícil.
Acostume-se com o tédio
A maior ameaça ao sucesso não é o fracasso, é o tédio.
A maestria exige repetição, e a repetição raramente é empolgante.
Quem aprende a atravessar o tédio com leveza, sem drama, descobre a verdadeira força da consistência.
Não é a motivação que leva à constância; é a constância que cria a motivação.
Reprograme seu cérebro
Experimente uma simples mudança de linguagem: em vez de dizer “tenho que estudar”, diga “consigo estudar”.
A primeira frase carrega obrigação; a segunda transmite possibilidade.
Focar no benefício, e não no incômodo, muda a forma como o cérebro interpreta o esforço.
Não significa que vai se tornar fácil, mas certamente ficará possível.
A constância nasce exatamente nos dias em que nada parece acontecer.
É nesses momentos silenciosos, sem aplausos, que os verdadeiros aprovados estão sendo formados.








